sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Nós perdemos também este crepúsculo



Nós perdemos também este crepúsculo.
Ninguém nos viu à tarde com as mãos unidas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.

Vi, de minha janela,
a festa do poente nos montes distantes.

Às vezes, qual moeda,
acendia-se um pouco de sol em minhas mãos.

Eu te recordava com a alma apertada
por essa tristeza que conheces em mim.

Então, onde estarias?
Junto a que gente?
Dizendo que palavras?
Por que me há de vir todo este amor de um golpe
quando me sinto triste e te sinto distante?

Caiu-me o livro que sempre se escolhe ao crepúsculo
e como um cão ferido rolou-me aos pés a capa.

Sempre, sempre te afastas pela tarde
até onde o crepúsculo corre apagando estátuas.


PABLO NERUDA

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