terça-feira, 15 de junho de 2010

CHICO E NERUDA

Recordo-te como eras

Recordo-te como eras no derradeiro outono.

Eras a boina gris e o coração em calma.

Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.

E caíam as folhas em águas de tual alma.

Aos meus braços colada qual uma trepadeira,

as folhas recolhiam tua voz úmida e em calma.

Oh fogueira de pasmo em que ardeu minha sede.

Doce jacinto azul torcido na minha alma.

Sinto o viajar dos olhos teus e é longe o outono:

boina gris, voz de pássaro e coração de casa,

para onde emigravam meus profundos anseios

e caíam meus beijos alegres como brasas.

Céu, visto de um navio. Campo, visto do monte.

Tua lembrança é de luz, de fumo e lago em calma!

No fundo de teus olhos ardiam os crepúsculos.

Folhas secas de outono giravam na tua alma.

Pablo Neruda